Como Superar o Medo de Agradar as Pessoas com Habilidades DBT: Estratégias Práticas para Construir Confiança e Autenticidade
- Gleidna Santos
- 20 de mar.
- 5 min de leitura
Atualizado: 21 de mar.

O que é o Medo de Agradar as Pessoas?
O medo de agradar as pessoas é frequentemente caracterizado por uma preocupação constante em obter aprovação externa, muitas vezes às custas das próprias necessidades e desejos. Esse comportamento pode ser entendido através de teorias da psicologia social e cognitiva. De acordo com Schlenker (1980), o comportamento de agradar reflete uma necessidade de conformidade e aceitação social, que está profundamente enraizada no medo de rejeição e na ansiedade interpessoal. Estudos sobre psicologia cognitiva também mostram que essa necessidade de agradar pode ser exacerbada por padrões de pensamento desadaptativos, como o perfeccionismo e a distorção cognitiva, que podem gerar sentimentos de inadequação (Beck, 1967).
O Papel da DBT no Processo de Superação
A Terapia Comportamental Dialética (DBT), desenvolvida por Marsha Linehan, é uma abordagem terapêutica comprovada para tratar uma ampla gama de transtornos emocionais, incluindo transtornos de personalidade, depressão e ansiedade. A DBT integra técnicas de terapia cognitivo-comportamental (TCC) com conceitos de aceitação e mindfulness, sendo eficaz em ajudar indivíduos a regularem suas emoções e desenvolverem habilidades interpessoais saudáveis (Linehan, 1993).
O foco central da DBT é a aceitação e mudança simultâneas, proporcionando aos indivíduos as ferramentas necessárias para aceitar suas emoções enquanto trabalham para modificá-las de maneira mais eficaz. Isso é particularmente útil para quem sofre com o medo de agradar as pessoas, pois essas habilidades ajudam a lidar com a culpa, a ansiedade e a dificuldade de estabelecer limites.
Estratégias DBT para Superar o Medo de Agradar as Pessoas
1. Mindfulness (Atenção Plena)
Mindfulness, uma prática fundamental da DBT, foi originalmente adaptada da meditação budista por Kabat-Zinn (1990) e tem sido amplamente validada por estudos que mostram sua eficácia na redução do estresse e na regulação emocional. A prática de mindfulness envolve a conscientização plena do momento presente, permitindo que o indivíduo observe seus pensamentos e emoções sem julgamento. Essa habilidade é crucial para quem tenta superar o medo de agradar as pessoas, pois permite que a pessoa tome decisões conscientes sobre como responder a situações, em vez de agir de forma impulsiva para evitar o desconforto emocional.
Exemplo prático: Quando você sentir a necessidade de agradar alguém, pratique parar e observar seus sentimentos sem se apressar em responder.
Pergunte-se: “Isso é realmente o que eu quero fazer, ou estou agindo por medo de desapontar alguém?”
2. Aceitação Radical (Radical Acceptance)
A aceitação radical é um conceito central na DBT, onde o indivíduo aprende a aceitar a realidade como ela é, sem tentar mudá-la ou resistir a ela (Linehan, 1993). Esse conceito é altamente relevante para quem busca superar o medo de agradar as pessoas. A aceitação radical ajuda a pessoa a lidar com a frustração e a desaprovação de outros de uma maneira mais saudável, sem se sentir sobrecarregada pela culpa ou pela vergonha.
Exemplo prático: Quando alguém ficar desapontado com você, aceite que não pode controlar os sentimentos dessa pessoa. Em vez de se sentir culpado, reconheça que suas necessidades também são válidas e merecem ser respeitadas.
3. Habilidades Interpessoais: Assertividade e Definição de Limites
As habilidades interpessoais da DBT são baseadas na teoria da assertividade, que é a capacidade de expressar sentimentos, desejos e necessidades de forma honesta e respeitosa, sem agressividade ou passividade (Bower, 2004). A assertividade é essencial para superar o medo de agradar as pessoas, pois permite que o indivíduo estabeleça limites saudáveis, reconhecendo o valor de suas próprias necessidades sem culpa ou medo de desagradar.
Estudos empíricos, como o de Linehan et al. (1991), demonstram que a assertividade é uma habilidade central na DBT, especialmente quando se trata de desenvolver relações interpessoais equilibradas. Ser assertivo também envolve a habilidade de lidar com a rejeição ou desaprovação de maneira construtiva, sem sacrificar o próprio bem-estar.
Exemplo prático: Em vez de ceder a todos os pedidos, aprenda a dizer "não" de forma respeitosa. Por exemplo: “Eu entendo seu pedido, mas no momento não posso ajudar. Espero que entenda.”
4. Regulação Emocional: Lidar com Sentimentos de Culpabilidade
A regulação emocional é outra habilidade essencial da DBT, que envolve o desenvolvimento da capacidade de lidar de forma saudável com emoções intensas, como a culpa (Linehan, 1993). O medo de agradar as pessoas muitas vezes é alimentado pela culpa de não atender às expectativas dos outros. A regulação emocional permite que o indivíduo gerencie essa culpa de forma construtiva, sem ceder às pressões externas.
Exemplo prático: Quando sentir culpa por não agradar alguém, use práticas de regulação emocional, como a reinterpretação de pensamentos (Beck, 1967), para desafiar a ideia de que você deve agradar os outros a todo custo.
5. Tolerância ao Mal-Estar: Enfrentando a Ansiedade de Agradar
A habilidade de tolerância ao mal-estar da DBT envolve a capacidade de suportar situações emocionalmente difíceis sem recorrer a comportamentos impulsivos, como agradar os outros para aliviar a ansiedade (Linehan, 1993). Estabelecer limites pode causar desconforto, mas com a prática da tolerância ao mal-estar, o indivíduo aprende a enfrentar essa ansiedade de forma mais equilibrada.
Exemplo prático: Se sentir uma forte ansiedade ao recusar um pedido, utilize técnicas de respiração ou visualize um cenário em que você se sinta seguro e tranquilo para ajudar a reduzir a tensão.
Conclusão: Transformando o Medo de Agradar em Autenticidade
Superar o medo de agradar as pessoas é um processo complexo que envolve autoconhecimento, aceitação e a prática de habilidades emocionais saudáveis. A Terapia Comportamental Dialética (DBT) oferece ferramentas eficazes para ajudar a lidar com as emoções intensas que surgem nesse processo, promovendo maior confiança, autenticidade e respeito pelos próprios limites.
Ao adotar as estratégias DBT mencionadas, você pode aprender a estabelecer limites saudáveis, ser mais autêntico nas suas interações e construir uma vida mais equilibrada. A aceitação de si mesmo e a prática das habilidades DBT não só ajudam a superar o medo de agradar, mas também a viver de maneira mais alinhada com seus próprios valores e necessidades.
Referências
Beck, A. T. (1967). Cognitive Therapy: Nature and Relation to Behavior Therapy. New York: International Universities Press.
Bower, D. (2004). The Assertiveness Workbook: How to Express Your Ideas and Stand Up for Yourself at Work and in Relationships. New Harbinger Publications.
Kabat-Zinn, J. (1990). Full Catastrophe Living: Using the Wisdom of Your Body and Mind to Face Stress, Pain, and Illness. Delta.
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-Behavioral Treatment of Borderline Personality Disorder. Guilford Press.
Linehan, M. M., et al. (1991). Dialectical Behavior Therapy for Borderline Personality Disorder. Archives of General Psychiatry, 48(12), 1060-1064.
Schlenker, B. R. (1980). Impression Management: The Self-Concept, Social Identity, and Interpersonal Relations. Brooks/Cole.