Fortalecendo Relacionamentos por Meio da Efetividade Interpessoal: Um Enfoque Baseado na DBT
- Gleidna Santos
- 18 de jul.
- 5 min de leitura
A comunicação interpessoal é uma habilidade essencial para o funcionamento humano, com impactos diretos na qualidade dos relacionamentos, na saúde mental e no desempenho profissional (Linehan, 2015). No contexto da Terapia Comportamental Dialética (DBT), a efetividade interpessoal é um dos quatro módulos centrais do Treinamento de Habilidades, sendo definida como a capacidade de interagir com os outros de forma eficaz, respeitando os próprios objetivos, mantendo o autorrespeito e preservando os relacionamentos (Linehan, 2015; McKay, Davis & Fanning, 2018).
Em uma sociedade cada vez mais interconectada, o desenvolvimento de competências interpessoais tornou-se crucial para evitar conflitos, promover cooperação e facilitar a regulação emocional em contextos de alta exigência relacional (Koerner, 2012).
Comunicação Interpessoal Eficaz: Mais do que Troca de Palavras
A comunicação interpessoal eficaz é um processo intencional, baseado em escuta ativa, validação emocional e assertividade. Ela envolve não apenas a transmissão de mensagens, mas a capacidade de construir significado compartilhado, considerando o contexto, os sinais não verbais e a função do comportamento comunicativo (Linehan, 2015; Rogers & Farson, 1957). Em estudos contemporâneos, estima-se que 70% dos conflitos interpessoais surgem de falhas na comunicação (Schein & Schein, 2017).
Na DBT, enfatiza-se a importância de uma postura dialética: abandonar dicotomias rígidas e adotar o pensamento do tipo “ambos/e” (“both/and”), permitindo que diferentes verdades coexistam em um diálogo respeitoso (Linehan, 2015).

Escuta Ativa e Validação: Fundamentos da Relação Eficaz
A escuta ativa é uma habilidade de atenção plena voltada ao outro. Envolve presença plena, linguagem corporal aberta e respostas empáticas. Segundo Rogers e Farson (1957), a escuta ativa é um dos maiores promotores de mudança em contextos relacionais. Na DBT, a escuta é sempre acompanhada de validação – reconhecer e legitimar a experiência emocional do outro, ainda que não se concorde com seu comportamento (Fruzzetti, 2006).
Por exemplo, ao escutar um colega expressar frustração, perguntas abertas como “Como você se sente em relação a isso?” ou “O que poderia te ajudar agora?” funcionam como estratégias dialógicas que promovem conexão e desarmam padrões reativos.

O Que é Efetividade Interpessoal na DBT?
Efetividade interpessoal refere-se à capacidade de alcançar objetivos pessoais nas relações, mantendo o respeito por si mesmo e fortalecendo os vínculos sociais (Linehan, 2015). Essa competência é especialmente importante em contextos onde emoções intensas ou padrões disfuncionais de relacionamento estão presentes, como no Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) ou em ambientes organizacionais de alta demanda.
Estudos mostram que equipes com alta efetividade interpessoal têm desempenho até 25% superior, indicando que as habilidades sociais não são apenas “acessórias”, mas determinantes de sucesso (Goleman, 2006; Linehan, 2015).
Práticas Baseadas em Evidência para Aprimorar a Comunicação
Algumas estratégias eficazes para fortalecer a comunicação interpessoal incluem:
Clareza e Simplicidade: Adotar uma linguagem objetiva, direta e compreensível, evitando ambiguidades. A clareza reduz distorções cognitivas e facilita o entendimento mútuo (Beck, 2011).
Feedback Construtivo: Focar em comportamentos observáveis, e não em julgamentos. A fórmula DEAR MAN, da DBT, é uma ferramenta estruturada para esse tipo de comunicação (Linehan, 2015).
Empatia e Validação: Demonstrar compreensão genuína, validando emoções e ajustando a comunicação ao estado emocional do outro (Fruzzetti, 2006).
Comunicação Não-Verbal Consciente: Estudos clássicos (Mehrabian, 1972) apontam que grande parte da comunicação é não verbal, incluindo tom de voz, postura e expressões faciais. A congruência entre linguagem verbal e não verbal aumenta a confiabilidade da mensagem.

Superando Barreiras na Comunicação
Mesmo com boas intenções, fatores como estresse, diferenças culturais ou experiências traumáticas podem dificultar a comunicação. Na DBT, o treino de habilidades interpessoais auxilia indivíduos a identificar e superar essas barreiras por meio da regulação emocional e do uso consciente de estratégias adaptativas (Linehan, 2015; Koerner, 2012).
Barreiras comuns incluem:
Pressão do Tempo: Em contextos acelerados, a comunicação tende a se tornar superficial. A habilidade de parar, respirar e aplicar atenção plena pode prevenir rupturas (Linehan, 2015).
Diferenças Culturais: Exige-se sensibilidade intercultural e respeito às formas diversas de expressar sentimentos e necessidades (Sue & Sue, 2016).
Estados Emocionais Intensos: A vulnerabilidade emocional interfere na clareza comunicativa. Aprender a identificar sinais precoces de desregulação e aplicar habilidades de autocontrole (por exemplo, TIPP ou STOP) é fundamental (Linehan, 2015).
O Timing da Comunicação: Quando Importa Tanto Quanto o Conteúdo
Saber quando falar é uma habilidade tão importante quanto saber o que dizer. A escolha do momento oportuno está ligada à regulação emocional e ao respeito pelo estado do outro. Na DBT, essa sensibilidade temporal é trabalhada com base nos princípios de mindfulness e validação contextual (Linehan, 2015; McKay et al., 2018).
Construindo Conexões Saudáveis a Longo Prazo
Relacionamentos duradouros exigem investimento contínuo. A DBT ensina que relações sólidas são construídas por meio de pequenos comportamentos diários que comunicam valor, respeito e compromisso (Linehan, 2015). Exemplos incluem:
Contato regular e intencional
Reconhecimento de conquistas mútuas
Colaboração e escuta mútua em tarefas comuns
Esses comportamentos funcionam como reforçadores sociais e mantêm vínculos afetivos ativos (Skinner, 1953).
Considerações Finais
A comunicação interpessoal eficaz não é uma característica inata, mas sim uma habilidade relacional complexa que pode ser ensinada, desenvolvida e refinada por meio de práticas sistemáticas e intencionais ao longo da vida (Linehan, 2015; McKay, Davis & Fanning, 2018). No contexto da Terapia Comportamental Dialética (DBT), essa competência é parte essencial do desenvolvimento de relações saudáveis e funcionalmente adaptativas, sendo considerada uma das quatro habilidades centrais no treinamento clínico.
A DBT Paraná, como centro de referência nacional na formação e implementação da Terapia Comportamental Dialética, oferece um modelo estruturado, baseado em evidências, para o fortalecimento da efetividade interpessoal em diversos contextos, clínicos, familiares, escolares e organizacionais. Por meio do ensino de habilidades validadas cientificamente, promove-se o aprimoramento da escuta ativa, da assertividade, da regulação emocional e da construção de relacionamentos sustentáveis.
Ao aplicar os princípios da efetividade interpessoal ensinados na DBT, os indivíduos não apenas aprimoram sua comunicação, mas investem em um processo profundo de construção de vínculos significativos. Trata-se de uma prática que transcende técnicas: é a construção de pontes dialógicas, o cultivo do pertencimento e a promoção de interações mais conscientes, respeitosas e transformadoras – tanto na vida pessoal quanto no exercício profissional. Referências
Beck, J. S. (2011). Cognitive behavior therapy: Basics and beyond (2nd ed.). Guilford Press.
Fruzzetti, A. E. (2006). The high-conflict couple: A dialectical behavior therapy guide to finding peace, intimacy, and validation. New Harbinger Publications.
Goleman, D. (2006). Social intelligence: The new science of human relationships. Bantam Books.
Koerner, K. (2012). Doing dialectical behavior therapy: A practical guide. Guilford Press.
Linehan, M. M. (2015). DBT® skills training manual (2nd ed.). Guilford Press.
McKay, M., Davis, M., & Fanning, P. (2018). Messages: The communication skills book (4th ed.). New Harbinger Publications.
Mehrabian, A. (1972). Nonverbal communication. Aldine-Atherton.
Rogers, C., & Farson, R. (1957). Active listening. Industrial Relations Center of the University of Chicago.
Schein, E. H., & Schein, P. (2017). Organizational culture and leadership (5th ed.). Wiley.
Sue, D. W., & Sue, D. (2016). Counseling the culturally diverse: Theory and practice (7th ed.). Wiley.
Zhou, J., & George, J. M. (2001). When job dissatisfaction leads to creativity: Encouraging the expression of voice. Journal of Applied Psychology, 86(3), 530–538. https://doi.org/10.1037/0021-9010.86.3.530
Comentários