O Vazio Emocional e a Terapia Comportamental Dialética (DBT): Compreendendo e Intervindo com Evidência Científica
- Gleidna Santos
- 4 de jun.
- 4 min de leitura

O sentimento de vazio emocional não é exclusivo do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), embora represente um dos critérios diagnósticos centrais do transtorno, segundo o DSM-5-TR (American Psychiatric Association, 2022). Este fenômeno também está frequentemente presente em quadros de depressão maior, Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e outros transtornos relacionados à desregulação emocional (Khoury et al., 2013).
Pessoas que vivenciam o vazio emocional costumam descrevê-lo como uma sensação de entorpecimento interno, desconexão, cronicidade do tédio ou um buraco profundo no peito ou abdômen. É como se algo essencial estivesse ausente, dificultando a experiência de alegria, intimidade, motivação ou sentido na vida (Linehan, 1993/2015; Neacsiu et al., 2010).
Muitos indivíduos tentam, de forma inconsciente, "preencher" esse vazio com comportamentos desadaptativos, como compulsões alimentares, uso de substâncias, compras excessivas ou relacionamentos instáveis. No entanto, essas estratégias evitativas reforçam o ciclo de alienação emocional e desregulação (Chapman et al., 2006).
O Papel da Negligência Emocional na Infância
A literatura indica que o vazio emocional pode ser, muitas vezes, um sintoma tardio de negligência emocional na infância uma forma silenciosa, porém significativa, de trauma do desenvolvimento (Courtois & Ford, 2016; Linehan, 1993). Crianças que crescem em ambientes onde suas emoções são ignoradas, invalidadas ou punidas aprendem a dissociar-se de seus próprios sentimentos, internalizando que suas emoções não têm valor, são perigosas ou são inadequadas (Spinazzola et al., 2005).
A Dialectical Behavior Therapy (DBT), desenvolvida por Marsha Linehan (1993), propõe que esse padrão de invalidação crônica interagindo com uma vulnerabilidade biológica à desregulação emocional constitui o chamado modelo biossocial, que explica a gênese do TPB e outras formas graves de sofrimento emocional. A Experiência do Vazio: Um Reflexo da Desconexão Emocional
Quando adultos relatam sentir-se vazios, muitas vezes estão descrevendo uma desconexão internalizada com seus estados emocionais uma dificuldade de nomear, identificar, validar e regular sentimentos (Linehan, 2015). Esse fenômeno pode coexistir com a presença de emoções intensas, criando o paradoxo de "sentir tudo e nada ao mesmo tempo".
Estudos neurobiológicos indicam que pessoas com TPB ou histórico de trauma emocional apresentam alterações funcionais em áreas cerebrais responsáveis pelo processamento de emoções, como a amígdala, o córtex pré-frontal medial e o giro do cíngulo anterior (Silvers et al., 2016), o que contribui para uma percepção emocional fragmentada e caótica.
Como a DBT Contribui para o Reencontro com as Emoções
A DBT oferece um conjunto estruturado de intervenções validadas
cientificamente para restaurar a conexão emocional e reduzir o sofrimento subjetivo (Linehan, 1993; Rizvi et al., 2013). Um dos pilares da DBT é o Treinamento de Habilidades, que promove competências de:
Mindfulness (atenção plena ao momento presente e às emoções internas),
Regulação Emocional (compreender, nomear, modular emoções),
Tolerância ao Mal-Estar (lidar com crises sem recorrer a comportamentos impulsivos),
Efetividade Interpessoal (comunicar necessidades e estabelecer limites).
No contexto do vazio emocional, o treinamento em mindfulness e regulação emocional é essencial. Pesquisas mostram que essas habilidades estão associadas a mudanças duradouras na forma como o indivíduo se relaciona com seu mundo interno (Kliem et al., 2010; Soler et al., 2009).
Do Vazio à Vitalidade: Um Caminho Possível
Pessoas emocionalmente negligenciadas aprendem a evitar ou rejeitar seus sentimentos como forma de sobrevivência. No entanto, as emoções não desaparecem elas permanecem, latentes, esperando por um espaço seguro onde possam emergir e ser integradas (Courtois & Ford, 2016). A DBT, ao oferecer validação radical, estratégias de modulação emocional e um ambiente terapêutico estruturado, viabiliza a transformação dessa dor silenciosa em autoconhecimento, conexão e sentido existencial.
Como afirma Linehan (2015), "as emoções são as forças motivadoras da mudança". Quando aprendemos a sentir de forma segura, reabrimos o canal da autenticidade e da vitalidade humana. Reconectar-se com as emoções é, portanto, uma forma de voltar a viver, não apenas sobreviver.
No Brasil, a DBT Paraná se consolida como um centro de referência nacional em Terapia Comportamental Dialética, oferecendo atendimento clínico especializado, treinamento de habilidades para pacientes e familiares, formação de profissionais e estratégias avançadas para lidar com casos de alta complexidade emocional. Se você reconhece o vazio como parte da sua experiência, saiba que não precisa enfrentá-lo sozinho: com apoio adequado, é possível restaurar o vínculo com suas emoções e transformar o sofrimento em um caminho de construção de sentido e vitalidade.
Referências
American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed., text rev.; DSM-5-TR). Washington, DC: Author.
Chapman, A. L., Gratz, K. L., & Brown, M. Z. (2006). Solving the puzzle of deliberate self-harm: The experiential avoidance model. Behaviour Research and Therapy, 44(3), 371–394. https://doi.org/10.1016/j.brat.2005.03.005
Courtois, C. A., & Ford, J. D. (2016). Treating complex traumatic stress disorders in adults: Scientific foundations and therapeutic models (2nd ed.). Guilford Press.
Khoury, B., Lecomte, T., Fortin, G., et al. (2013). Mindfulness-based therapy: A comprehensive meta-analysis. Clinical Psychology Review, 33(6), 763–771. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2013.05.005
Kliem, S., Kröger, C., & Kosfelder, J. (2010). Dialectical behavior therapy for borderline personality disorder: A meta-analysis using mixed-effects modeling. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 78(6), 936–951. https://doi.org/10.1037/a0021015
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. Guilford Press.
Linehan, M. M. (2015). DBT® skills training manual (2nd ed.). Guilford Press.
Neacsiu, A. D., Rizvi, S. L., & Linehan, M. M. (2010). Dialectical behavior therapy skills use as a mediator and outcome of treatment for borderline personality disorder. Behaviour Research and Therapy, 48(9), 832–839. https://doi.org/10.1016/j.brat.2010.05.017
Silvers, J. A., Insel, C., Powers, K. E., et al. (2016). vlPFC–vmPFC–amygdala interactions underlie variability in emotion regulation. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 11(9), 1334–1341. https://doi.org/10.1093/scan/nsw048
Soler, J., Pascual, J. C., Tiana, T., et al. (2009). Dialectical behavior therapy skills training compared to standard group therapy in borderline personality disorder: A 3-month randomized controlled clinical trial. Behaviour Research and Therapy, 47(5), 353–358. https://doi.org/10.1016/j.brat.2009.01.013
Spinazzola, J., Blaustein, M., & van der Kolk, B. A. (2005). Posttraumatic stress disorder treatment outcome research: The study of unrepresentative samples? Journal of Traumatic Stress, 18(5), 425–436. https://doi.org/10.1002/jts.20050
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