Projeto Social da DBT Paraná: Acesso Democrático à Terapia Comportamental Dialética (DBT) no Brasil
- Gleidna Santos
- 11 de ago.
- 3 min de leitura

A Terapia Comportamental Dialética (DBT), desenvolvida por Marsha Linehan (1993; 2015), nasceu a partir de um princípio simples e profundo: todas as pessoas merecem um tratamento eficaz, validante e baseado em evidências, independentemente de sua origem, condição socioeconômica ou diagnóstico.
Desde suas primeiras publicações, Linehan destacou que a DBT deveria ser adaptável a diferentes contextos e populações, preservando sua fidelidade ao modelo. A própria autora implementou a DBT em ambientes tão diversos quanto hospitais universitários, unidades prisionais, programas comunitários e clínicas privadas, sempre com o objetivo de alcançar quem mais precisava.
A literatura científica sobre DBT demonstra sua eficácia não apenas para o Transtorno de Personalidade Borderline, seu foco inicial, mas também para uma gama de condições clínicas, incluindo:
Comportamentos autolesivos e suicidas recorrentes (Linehan et al., 2006)
Transtornos alimentares (Safer, Telch & Chen, 2009)
Transtorno por uso de substâncias (Dimeff & Linehan, 2008)
Depressão resistente (Lynch et al., 2007)
Populações adolescentes em alto risco (Miller, Rathus & Linehan, 2007)
Essas evidências reforçam que a DBT é, por natureza, um tratamento transversal, capaz de se adaptar a diferentes diagnósticos e realidades, desde que mantida sua estrutura central: terapia individual, treinamento de habilidades, coaching entre sessões e equipe de consultoria para terapeutas.
Democratização como princípio ético
Democratizar a DBT não é apenas uma questão de logística ou filantropia, é uma obrigação ética para qualquer profissional comprometido com a ciência e com a vida humana.
Linehan (2015) aponta que a postura dialética exige que o terapeuta reconheça a necessidade de aceitar a realidade como ela é (incluindo barreiras sociais e econômicas) e, ao mesmo tempo, trabalhar ativamente para mudá-la. No contexto do acesso à saúde mental, isso significa remover barreiras estruturais e criar caminhos para que a DBT chegue às populações que mais precisam.
Investir na democratização da DBT é vestir a camisa de um compromisso maior que a própria prática clínica individual. Envolve:
Formar-se com alta fidelidade ao modelo, para garantir qualidade e segurança.
Participar de projetos sociais e comunitários, oferecendo DBT de forma acessível.
Adaptar estratégias para diferentes contextos, mantendo os princípios do tratamento.
Educar o público e outros profissionais sobre o que é a DBT e sua eficácia comprovada.
Essa postura, além de salvar vidas, fortalece a credibilidade da abordagem e dos próprios profissionais.
O Projeto Social DBT Paraná
O Projeto Social da DBT Paraná é um modelo concreto desse compromisso. Com mais de 500 pessoas já beneficiadas, ele mantém o mesmo padrão de qualidade aplicado nos programas pagos (R$ 600 a R$ 800), mas com investimento subsidiado ou isenção total.
A condução é feita por alunos de formação em DBT e estagiários de psicologia, sob supervisão clínica rigorosa, garantindo fidelidade ao manual original e segurança para os participantes. A democratização da DBT é coerente com seu próprio DNA clínico e filosófico.Negar acesso por barreiras econômicas ou sociais contraria não apenas os princípios da abordagem, mas também o princípio universal da psicologia baseada em evidências: o tratamento deve chegar a quem precisa dele.
Como disse Marsha Linehan:
“Se você não puder ajudar todos, ajude pelo menos alguém. Mas nunca deixe de ajudar porque é difícil.”
O desafio está posto. E a responsabilidade ética, científica e humana, é de todos nós!
Referências
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-Behavioral Treatment of Borderline Personality Disorder. New York: Guilford Press.
Linehan, M. M. (2015). DBT® Skills Training Manual (2nd ed.). New York: Guilford Press.
Linehan, M. M., et al. (2006). Two-year randomized controlled trial of dialectical behavior therapy vs. therapy by experts for suicidal behaviors and borderline personality disorder. Archives of General Psychiatry, 63(7), 757–766.
Safer, D. L., Telch, C. F., & Chen, E. Y. (2009). DBT for Binge Eating and Bulimia. Guilford Press.
Dimeff, L. A., & Linehan, M. M. (2008). Dialectical behavior therapy for substance abusers. Addiction Science & Clinical Practice, 4(2), 39–47.
Lynch, T. R., et al. (2007). A preliminary evaluation of DBT for treatment-resistant depression. Behavior Therapy, 38(2), 167–183.
Miller, A. L., Rathus, J. H., & Linehan, M. M. (2007). Dialectical Behavior Therapy with Suicidal Adolescents. New York: Guilford Press.

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