Trauma Complexo: o que é, sintomas, impactos e uma nova esperança com o DBT-PTSD
- Gleidna Santos
- há 4 dias
- 3 min de leitura

O trauma complexo é uma das condições mais devastadoras da saúde mental. Diferente do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) clássico, que geralmente resulta de um único evento traumático, o trauma complexo é consequência de exposição prolongada a situações adversas, como abuso infantil, violência crônica, negligência emocional ou abandono (Herman, 1992/2015).
O que caracteriza o trauma complexo?
Pacientes que vivenciam esse tipo de sofrimento não apresentam apenas lembranças dolorosas do passado: eles carregam marcas profundas na forma de se relacionar consigo mesmos e com o mundo. Os sintomas mais comuns incluem:
Desregulação emocional persistente: dificuldade em lidar com emoções intensas, oscilando entre explosões de raiva, tristeza profunda e entorpecimento emocional.
Sentimento crônico de vazio e desesperança.
Dificuldades interpessoais graves: problemas em confiar nos outros, medo constante de abandono ou rejeição.
Dissociação: desconexão de pensamentos, memórias ou da própria identidade como forma de autoproteção.
Vergonha e culpa intensas relacionadas à história de vida.
Quais transtornos estão mais associados ao trauma complexo?
Embora qualquer pessoa possa desenvolver sintomas após vivências traumáticas, algumas condições psiquiátricas estão particularmente ligadas ao trauma complexo, incluindo:
Transtorno de Personalidade Borderline (TPB): caracterizado por instabilidade emocional, relacionamentos intensos e muitas vezes turbulentos, além de risco elevado de comportamentos autolesivos.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e TEPT Complexo (TEPT-C).
Transtornos dissociativos.
Transtornos depressivos e ansiosos graves, frequentemente resistentes a tratamentos convencionais.
DBT-PTSD: uma resposta inovadora
A Terapia Comportamental Dialética (DBT), criada por Marsha Linehan, revolucionou o tratamento do TPB, trazendo redução consistente de comportamentos suicidas e autolesivos (Linehan, 1993/2015).
No entanto, permanecia a grande questão clínica: quando e como tratar o trauma em pacientes de alto risco?
A resposta surgiu com o DBT-PTSD (Dialectical Behavior Therapy for Posttraumatic Stress Disorder), desenvolvido por Martin Bohus e sua equipe no Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, Alemanha.
Diferente da DBT tradicional, que deixa o trabalho direto com trauma apenas para estágios avançados, o DBT-PTSD integra exposição e ressignificação já no Estágio 1, assim que a segurança mínima está estabelecida.
Seus pilares incluem:
Exposição narrativa do trauma de forma gradual e segura.
Mindfulness corporal e emocional, ajudando o paciente a permanecer presente diante de gatilhos.
Autocompaixão e ressignificação, transformando a relação com as memórias dolorosas.
Estratégias clássicas da DBT para tolerância ao mal-estar, regulação emocional e efetividade interpessoal.
Evidências científicas
Em pouco mais de uma década, o DBT-PTSD saiu de um estudo piloto inovador (Bohus et al., 2013) para se tornar um protocolo consolidado internacionalmente, com ensaios clínicos publicados em periódicos de alto impacto, incluindo o JAMA Psychiatry (Bohus et al., 2020).
Estudos demonstram:
Redução significativa dos sintomas de TEPT.
Menor taxa de abandono comparado a outras terapias focadas em trauma.
Eficácia mesmo em pacientes com dissociação grave (Kleindienst et al., 2016).
Superioridade em relação à Cognitive Processing Therapy (CPT) (Bohus et al., 2020).
E, mais recentemente, um estudo naturalístico hospitalar em 2025 ampliou ainda mais as evidências, aplicando o DBT-PTSD em pacientes internados com TEPT grave e comorbidades (Kamstra et al., 2025).
Um marco histórico no Brasil: Curso com Dr. Martin Bohus
É com grande alegria que anunciamos que o Dr. Martin Bohus, criador do protocolo DBT-PTSD, estará no Brasil em janeiro de 2026 para ministrar o curso intensivo oficial de seis dias.
Este curso é inédito e histórico: é a primeira vez que Bohus oferecerá um treinamento oficial no país. Antes, essa formação estava restrita principalmente à Europa.
Para profissionais da saúde mental, trata-se de uma oportunidade grandiosa e rara de aprender diretamente com o criador do protocolo, vivenciar técnicas que já transformaram vidas em todo o mundo e se posicionar na vanguarda da ciência aplicada ao trauma complexo.
Na DBT Paraná, acreditamos que a vida que vale a pena ser vivida também inclui a possibilidade de curar feridas profundas. E o DBT-PTSD é, hoje, uma das ferramentas mais promissoras para essa transformação.
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Referências
Bohus, M., Dyer, A. S., Priebe, K., Krüger, A., Kleindienst, N., Schmahl, C., & Steil, R. (2013). Dialectical behaviour therapy for post-traumatic stress disorder after childhood sexual abuse: A pilot study. Psychotherapy and Psychosomatics, 82(4), 221–223.
Kleindienst, N., Priebe, K., Görg, N., Dyer, A. S., Steil, R., Lyssenko, L., & Bohus, M. (2016). Dialectical behaviour therapy for posttraumatic stress disorder: Effects of dissociation and childhood trauma. European Journal of Psychotraumatology, 7(1), 293–297.
Bohus, M., Kleindienst, N., Hahn, C., Müller-Engelmann, M., Ludäscher, P., Steil, R., … & Fydrich, T. (2020). DBT-PTSD vs. CPT in complex PTSD: A randomized clinical trial. JAMA Psychiatry, 77(12), 1235–1245.
Bohus, M., & Stoffers-Winterling, J. (2021). Dialectical behavior therapy for PTSD. European Psychologist, 26(3), 219–231.
Kamstra, P., Zijlstra, B., De Mooij, L., Van Dijk, M., Van den Bosch, L. M. C., & Bohus, M. (2025). Inpatient DBT combined with trauma-focused therapy for PTSD and BPD symptoms: Study design of the Trauma Therapy Study. Frontiers in Psychiatry, 16, 1538149.
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