Transtorno de Personalidade Borderline: Manipulação ou Distúrbio Emocional? A Visão de Marsha Linehan
- Gleidna Santos
- 21 de mar.
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Atualizado: 21 de mar.

O transtorno de personalidade borderline (TPB) tem sido alvo de um estigma considerável, especialmente devido à sua associação com comportamentos manipulativos. Muitas pessoas acreditam, com base no senso comum, que os indivíduos com esse transtorno são manipuladores, volúveis e incapazes de manter relacionamentos saudáveis. No entanto, Marsha Linehan, criadora da Terapia Comportamental Dialética (DBT), apresenta uma visão diferente e desafia essas concepções. Para ela, a manipulação não é uma característica do transtorno, mas sim uma resposta ao sofrimento emocional intenso que essas pessoas vivenciam (Linehan, 1993). Neste artigo, vamos explorar as duas perspectivas e como a DBT oferece uma abordagem eficaz para lidar com os desafios emocionais do TPB.
O Senso Comum e a Associação com a Manipulação
O senso comum frequentemente associa o transtorno de personalidade borderline à manipulação emocional. Com base em comportamentos visíveis, como mudanças de humor abruptas, descontrole emocional, impulsividade e dificuldades em manter relacionamentos estáveis, muitas pessoas interpretam esses sinais como táticas manipulativas para obter atenção ou controle sobre os outros (Dutton & Painter, 1993). Esse estigma é particularmente prevalente em contextos de relacionamentos afetivos, onde os comportamentos podem ser vistos como uma tentativa deliberada de manipular o parceiro.
Esses comportamentos são muitas vezes mal interpretados, com a crença de que a manipulação é intencional e consciente, quando, na verdade, pode ser uma manifestação de um sofrimento interno profundo (Dutton, 1995). A associação de manipulação ao TPB ignora a complexidade do transtorno e a dor emocional subjacente, algo que é central na proposta terapêutica de Linehan.
A Perspectiva de Marsha Linehan: Distinção Importante
Marsha Linehan, criadora da Terapia Comportamental Dialética (DBT), desafia a visão comum de que a manipulação é uma característica do transtorno de personalidade borderline. Linehan (1993) argumenta que os comportamentos vistos como manipulativos são, na verdade, uma tentativa desesperada de evitar o abandono ou a rejeição. Ela destaca que a necessidade de validação emocional e o medo do abandono são centrais no TPB, e esses comportamentos são uma forma de lidar com a dor emocional intensa.
De acordo com Linehan (1993), os indivíduos com TPB não agem manipulativamente de forma intencional, mas como uma resposta ao sofrimento psicológico e à instabilidade emocional. Ao invés de serem vistos como manipuladores, esses indivíduos precisam de um tratamento que promova a validação de suas emoções e o desenvolvimento de habilidades de regulação emocional, algo que a DBT proporciona.
A DBT, como apresentada por Linehan, combina a terapia cognitivo-comportamental com práticas de mindfulness, ajudando os pacientes a reconhecer e controlar suas emoções, bem como a melhorar a eficácia nas interações interpessoais (Linehan, 1993). Ao invés de focar na rotulação dos pacientes como manipuladores, a DBT busca tratá-los com empatia e compreensão, ensinando-os a lidar de maneira mais eficaz com o sofrimento emocional.
A Manipulação no Contexto do TPB: Reflexão ou Manipulação Intencional?
A questão central desse debate é a diferenciação entre a manipulação consciente e os comportamentos que surgem como uma tentativa inconsciente de lidar com a dor emocional. Embora muitos dos comportamentos de indivíduos com TPB possam ser interpretados como manipulação, é importante compreender que essas ações são frequentemente uma tentativa de controlar ou evitar situações de grande sofrimento, e não uma estratégia deliberada de manipulação (Freeman, 2017).
Por exemplo, um indivíduo com TPB pode recorrer a comportamentos como ameaças de suicídio ou manipulação emocional para evitar o abandono, que é uma de suas maiores angústias. Esses comportamentos podem ser uma manifestação de desespero, e não uma tática calculada para controlar os outros (Stosny, 2011). Linehan (1993) argumenta que essas reações são reflexos de um sofrimento profundo e não de uma intenção de manipular.
A Importância da DBT: Capacitação para Lidar com as Emoções
A Terapia Comportamental Dialética (DBT) oferece uma abordagem prática e eficaz para lidar com os desafios emocionais do TPB, proporcionando um meio para os pacientes aprenderem a regular suas emoções de forma saudável. A DBT se concentra em técnicas de mindfulness e em habilidades de regulação emocional, com o objetivo de ajudar os indivíduos a lidarem com suas emoções sem recorrer à manipulação ou ao controle (Linehan, 1993). A DBT não apenas trata a dor emocional, mas também busca transformar os padrões de relacionamento prejudiciais, como os comportamentos manipulativos.
Além disso, a DBT ajuda os pacientes a desenvolverem a tolerância ao sofrimento, uma habilidade essencial para reduzir comportamentos impulsivos e manipulativos (Linehan et al., 2006). Ao aprenderem a lidar com seus sentimentos sem recorrer a táticas destrutivas, as pessoas com TPB podem melhorar seus relacionamentos e reduzir o impacto do transtorno em suas vidas diárias.
Como a DBT Pode Ajudar a Lidar com Comportamentos Manipulativos
Ao invés de reforçar os estigmas associados ao TPB, a DBT se propõe a ajudar os pacientes a desenvolver estratégias eficazes para lidar com suas emoções. A DBT ensina os indivíduos a reconhecerem os gatilhos emocionais que levam a comportamentos manipulativos e a substituí-los por ações mais adaptativas. O treinamento em comunicação assertiva, tolerância ao sofrimento e mindfulness são componentes chave da DBT, permitindo que as pessoas com TPB expressem suas necessidades e sentimentos de maneira mais saudável, sem recorrer à manipulação (Kimbrough et al., 2010).
Por exemplo, em situações de alta carga emocional, um paciente com TPB pode aprender a identificar o impulso de manipular para evitar o abandono e, em vez disso, aprender a comunicar suas necessidades de forma direta e honesta. Esse tipo de abordagem ajuda a quebrar o ciclo de manipulação e a promover relações interpessoais mais saudáveis.
O Papel da Educação e do Treinamento em DBT
Agora, mais do que nunca, é essencial proporcionar educação e treinamento em DBT para que as pessoas possam aprender a lidar com suas emoções de maneira mais saudável e eficaz. Ao se inscrever em um treinamento de habilidades em DBT, você não apenas aprenderá a lidar com situações emocionalmente intensas, mas também ajudará a transformar a maneira como você se relaciona com os outros, rompendo ciclos de manipulação e medo.
A DBT não é apenas para indivíduos com TPB, mas pode ser útil para qualquer pessoa que enfrente dificuldades com regulação emocional, estresse ou comunicação interpessoal. Se você se identifica com os desafios emocionais descritos aqui, o treinamento em DBT pode ser o passo essencial para uma vida mais equilibrada e saudável. A DBT Paraná conta com profissionais altamente qualificados para atendê-los. Conclusão
A discussão entre o senso comum e a visão apresentada por Marsha Linehan sobre o transtorno de personalidade borderline e os comportamentos manipulativos é complexa e importante. Enquanto o senso comum frequentemente associa TPB à manipulação intencional, Linehan defende que os comportamentos percebidos como manipulativos são, na verdade, tentativas desesperadas de lidar com um sofrimento emocional profundo. A Terapia Comportamental Dialética (DBT) oferece uma maneira prática e eficaz de ajudar indivíduos com TPB a entender e regular suas emoções, rompendo com os estigmas e comportamentos prejudiciais. Se você ou alguém que você conhece está lutando com dificuldades emocionais, o treinamento em habilidades de DBT pode ser o primeiro passo para uma vida mais equilibrada e emocionalmente saudável. Referências
Dutton, D. G., & Painter, S. L. (1993). Emotional abuse in marriage: Identifying the patterns. Psychiatric Clinics of North America, 16(3), 477–491. https://doi.org/10.1016/S0193-953X(18)30332-0
Dutton, D. G. (1995). The batterer: A psychological profile. BasicBooks.
Freeman, M. (2017). Emotional manipulation: Detect and deal with manipulative behavior in your relationships. CreateSpace Independent Publishing Platform.
Kimbrough, E., et al. (2010). Mindfulness intervention for stress reduction and mental health in children and adolescents: A systematic review. Journal of Child and Family Studies, 19(2), 231–239. https://doi.org/10.1007/s10826-009-9341-3
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. Guilford Press.
Linehan, M. M., et al. (2006). Dialectical behavior therapy for patients with borderline personality disorder and drug-dependence. American Journal of Psychiatry, 163(6), 1165–1171. https://doi.org/10.1176/ajp.2006.163.6.1165
Stosny, S. (2011). Living & loving after betrayal: How to heal from anger, hurt, and resentment. New Harbinger Publications.