Práticas de Mindfulness e Bem-Estar: A Ciência da Atenção Plena na Vida Moderna
- Gleidna Santos
- 4 de jul.
- 5 min de leitura

A busca pelo bem-estar tornou-se uma prioridade legítima na sociedade contemporânea. Com a aceleração do ritmo de vida, o aumento dos níveis de estresse e a hiperconectividade, cresce também a necessidade de práticas que promovam equilíbrio emocional e saúde mental. Uma dessas práticas, fundamentada em evidências sólidas, é o mindfulness, ou atenção plena, uma habilidade central no treinamento de habilidades da Terapia Comportamental Dialética (DBT), desenvolvida por Marsha Linehan (1993).
O Que é Mindfulness?
Mindfulness pode ser definido como a capacidade de manter a atenção de forma deliberada no momento presente, com uma atitude de curiosidade, abertura e aceitação (Kabat-Zinn, 2003). Trata-se de uma prática milenar, oriunda de tradições contemplativas orientais, que foi adaptada à psicologia ocidental contemporânea por meio de protocolos clínicos estruturados, como o Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR) e, posteriormente, incorporada a modelos psicoterapêuticos como a DBT (Linehan, 1993/2015).
Na DBT, o mindfulness não é apenas uma técnica, mas uma habilidade fundamental que sustenta todas as demais: regulação emocional, tolerância ao mal-estar e efetividade interpessoal. Ele é o ponto de partida para qualquer mudança significativa, pois permite que o indivíduo reconheça seu estado interno, se engaje com clareza na realidade e responda aos estímulos com maior flexibilidade.
Práticas de Mindfulness no Dia a Dia
A boa notícia é que a prática de mindfulness pode ser acessível e integrada à rotina diária. Exercícios simples, como respiração consciente, pausas intencionais durante o dia ou caminhadas em silêncio, são formas eficazes de iniciar essa jornada.
Um exemplo clássico de prática informal é o exercício da respiração consciente: sentar-se confortavelmente, fechar os olhos e focar a atenção na inspiração e expiração. Estudos demonstram que esse tipo de prática regular está associado à redução dos sintomas de ansiedade e melhora da regulação emocional (Hölzel et al., 2011).
Outra sugestão é a pausa consciente: em vez de acessar o celular de forma automática, você pode destinar um momento específico do dia para se reconectar consigo mesmo, observar seu corpo e emoções, e retomar as atividades com maior clareza e presença.
Benefícios Comprovados do Mindfulness
A literatura científica tem evidenciado, de forma consistente, os benefícios do mindfulness para a saúde mental e física. Entre os achados mais robustos, destacam-se:
Redução do estresse percebido (Grossman et al., 2004)
Diminuição dos sintomas de depressão e ansiedade (Khoury et al., 2013)
Aumento da densidade da substância cinzenta em regiões associadas à autorregulação emocional, como o córtex pré-frontal e o hipocampo (Hölzel et al., 2011)
Melhora na capacidade de atenção e foco (Zeidan et al., 2010)
No contexto ocupacional, práticas regulares de mindfulness têm sido associadas ao aumento da produtividade, redução de burnout e melhora das relações interpessoais (Good et al., 2016). Além disso, no contexto terapêutico, o treino de mindfulness tem demonstrado eficácia no tratamento de transtornos emocionais complexos, como o transtorno de personalidade borderline (Linehan, 2015; Soler et al., 2012).
Como Começar a Praticar Mindfulness
A seguir, algumas estratégias para iniciar com segurança:
Estabeleça um momento fixo do dia: Ao acordar ou antes de dormir são boas opções.
Crie um ambiente tranquilo: Reduza estímulos sensoriais e minimize distrações.
Comece com práticas curtas: Cinco a dez minutos diários já são suficientes para promover mudanças neuroplásticas.
Utilize recursos tecnológicos com critério: Aplicativos como Headspace e Calm podem ser bons aliados.
Seja gentil consigo mesmo: A prática de mindfulness requer paciência, persistência e autocompaixão.
A Consistência como Chave da Transformação
Evidências apontam que a regularidade da prática está diretamente relacionada à intensidade dos benefícios percebidos. Em um estudo longitudinal, Tang et al. (2015) observaram que a prática diária de mindfulness, mesmo por curtos períodos, levou a melhorias duradouras na regulação emocional, função executiva e conectividade entre regiões cerebrais.
Manter um diário reflexivo pode ajudar a monitorar os efeitos subjetivos da prática e fortalecer o compromisso pessoal com a continuidade do processo.
Mindfulness e DBT: Uma Aliança Transformadora
Na Terapia Comportamental Dialética, mindfulness é ensinado como habilidade estruturada e validada empiricamente. Os treinamentos em DBT ensinam não apenas a observar e descrever a experiência presente, mas também a fazer isso de forma não julgadora e com mente sábia, conceito central na DBT que integra razão e emoção.
Segundo Linehan (2015), o mindfulness, ao ser aplicado com consistência, atua como um antídoto à impulsividade, ao julgamento crônico de si mesmo e à desregulação emocional. Trata-se de uma habilidade que sustenta a mudança terapêutica ao mesmo tempo em que promove aceitação radical.
Conclusão: Um Caminho de Presença e Cuidado
Mindfulness não é uma promessa de perfeição ou ausência de sofrimento. É, antes, uma forma de estar com aquilo que é, com autenticidade e presença. Incorporar essa prática no dia a dia pode significar o início de uma relação mais compassiva consigo mesmo e com o mundo.
Se você deseja aprofundar sua prática de mindfulness com embasamento clínico, ético e científico, conte com a DBT Paraná, um centro de referência nacional na formação de profissionais e aplicação da Terapia Comportamental Dialética (DBT) com base nos princípios originais de Marsha Linehan. Nossos treinamentos seguem padrões internacionais de excelência e estão comprometidos com o cuidado fundamentado em evidências e na inclusão radical.
Referências
Good, D. J., Lyddy, C. J., Glomb, T. M., Bono, J. E., Brown, K. W., Duffy, M. K., ... & Lazar, S. W. (2016). Contemplating mindfulness at work: An integrative review. Journal of Management, 42(1), 114–142. https://doi.org/10.1177/0149206315617003
Grossman, P., Niemann, L., Schmidt, S., & Walach, H. (2004). Mindfulness-based stress reduction and health benefits. Journal of Psychosomatic Research, 57(1), 35–43. https://doi.org/10.1016/S0022-3999(03)00573-7
Hölzel, B. K., Carmody, J., Vangel, M., Congleton, C., Yerramsetti, S. M., Gard, T., & Lazar, S. W. (2011). Mindfulness practice leads to increases in regional brain gray matter density. Psychiatry Research: Neuroimaging, 191(1), 36–43. https://doi.org/10.1016/j.pscychresns.2010.08.006
Kabat-Zinn, J. (2003). Mindfulness-based interventions in context: Past, present, and future. Clinical Psychology: Science and Practice, 10(2), 144–156. https://doi.org/10.1093/clipsy/bpg016
Khoury, B., Lecomte, T., Fortin, G., Masse, M., Therien, P., Bouchard, V., ... & Hofmann, S. G. (2013). Mindfulness-based therapy: A comprehensive meta-analysis. Clinical Psychology Review, 33(6), 763–771. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2013.05.005
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. Guilford Press.
Linehan, M. M. (2015). DBT® Skills Training Manual (2nd ed.). Guilford Press.
Soler, J., Elices, M., Losilla, J. M., Pascual, J. C., Pérez, V., & Alvarez, E. (2012). Assessing mindfulness: Psychometric properties of the Spanish version of the Mindful Attention Awareness Scale (MAAS). Mindfulness, 3(2), 130–139. https://doi.org/10.1007/s12671-012-0083-2
Tang, Y. Y., Hölzel, B. K., & Posner, M. I. (2015). The neuroscience of mindfulness meditation. Nature Reviews Neuroscience, 16(4), 213–225. https://doi.org/10.1038/nrn3916
Zeidan, F., Johnson, S. K., Diamond, B. J., David, Z., & Goolkasian, P. (2010). Mindfulness meditation improves cognition: Evidence of brief mental training. Consciousness and Cognition, 19(2), 597–605. https://doi.org/10.1016/j.concog.2010.03.014
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