Psicose no Transtorno de Personalidade Borderline: o que a DBT pode fazer por pacientes com alucinações e delírios?
- Gleidna Santos
- há 10 minutos
- 4 min de leitura

Quando ouvimos a palavra “psicose”, muitos pensam automaticamente em quadros como esquizofrenia. No entanto, experiências psicóticas como ouvir vozes ou ter pensamentos persecutórios também podem ocorrer em pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). E sim, isso é mais comum do que se imagina.
De acordo com uma revisão recente (Merrett et al., 2022), até 94% dos pacientes com TPB relataram delírios persecutórios experimentar, e de 26% a 54% afirmaram ouvir vozes (Savero et al., 2022). Essas vozes muitas vezes são críticas, ameaçadoras e profundamente ligadas a experiências traumáticas da vida do paciente.
“É real ou é coisa da cabeça?” — Entendendo o que são essas experiências
Na prática clínica, é comum que essas vivências sejam minimizadas ou rotuladas como “pseudoalucinações”, um termo antiquado que deslegitima o sofrimento da pessoa. Como aponta Van der Zwaard (2021), não chamamos um ataque de pânico de “pseudo infarto”. Da mesma forma, chamar alucinações em TPB de “pseudo” pode ser insensível e impreciso.
A neurociência também nos mostra que essas experiências não são “invenções” da mente. Estudos com neuroimagem indicam que o cérebro de pessoas com TPB, durante episódios psicóticos, ativa áreas semelhantes às observadas em quadros como a esquizofrenia (Strawson et al., 2022).
No entanto, há diferenças importantes: no TPB, é comum que as alucinações envolvem múltiplos sentidos (inclusive olfato) e estejam diretamente ligadas a traumas vividos na infância (Herz, 2016; Fung et al., 2023). Além disso, sintomas como embotamento afetivo e isolamento social, característicos da esquizofrenia, costumam não aparecer em pacientes borderline, que geralmente têm uma reatividade emocional intensa.
Psicose em TPB: trauma, dissociação e estresse
A maioria das pessoas com TPB teve vivências traumáticas precoces. Segundo Beatson et al. (2019), cerca de 93% relatam traumas significativos na infância. Isso ajuda a entender o motivo pelo qual as experiências psicóticas são, muitas vezes, manifestações dissociativas como se a mente buscasse uma maneira de suportar o insuportável.
Essa leitura é reforçada pelo modelo de diátese-estresse, usado para explicar o desenvolvimento de transtornos mentais. Nele, uma predisposição biológica somada a altos níveis de estresse pode desencadear alterações cerebrais importantes (Pruessner et al., 2017). Isso também pode acontecer em casos de TPB.
O papel da DBT no tratamento de sintomas psicóticos em pacientes com TPB
A Terapia Comportamental Dialética (DBT), criada por Marsha Linehan, é uma abordagem desenvolvida especialmente para o tratamento de TPB. Na DBT Paraná, utilizamos essa metodologia com base nas melhores evidências científicas e em um modelo de atendimento validante, ético e informado sobre o trauma.
Como a DBT pode ajudar com sintomas psicóticos?
A DBT trabalha com quatro grandes eixos:
Regulação emocional
Tolerância ao estresse
Mindfulness (atenção plena)
Habilidades interpessoais
Essas ferramentas são fundamentais para que os pacientes consigam lidar melhor com as experiências psicóticas, sem se sentirem dominados por elas. Além disso, técnicas como aceitação radical e validação emocional ajudam a reduzir o medo, a vergonha e a autocrítica, favorecendo a adesão ao tratamento (Linehan et al., 2015).
Em nossa experiência na DBT Paraná, observamos que a DBT, quando conduzida por profissionais qualificados e sensíveis ao contexto do trauma, pode levar a:
Redução de alucinações intrusivas
Menor frequência de dissociação
Diminuição da ideação suicida
Aumento da confiança e da autonomia do paciente
A equipe da DBT Paraná é especializada no atendimento a pacientes com transtornos complexos, como o TPB com sintomas psicóticos. Nossos profissionais atuam com ética, escuta ativa e compromisso com a ciência e com o bem-estar de cada paciente.
Sabemos que lidar com experiências psicóticas pode ser assustador — tanto para quem vive quanto para quem convive. Por isso, criamos um espaço seguro, acolhedor e profissional, onde cada pessoa é vista em sua totalidade.
Você ou alguém que ama convive com TPB e sintomas psicóticos?
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Referências
Bandelow, B., Michaelis, S., & Wedekind, D. (2022). Treatment of borderline personality disorder: A meta-analysis of psychotherapy and pharmacotherapy. Journal of Personality Disorders, 36(1), 1–19. https://doi.org/10.1521/pedi.2022.36.1.1
Beatson, J., Rao, S., & Watson, S. (2019). Trauma, dissociation and psychosis in borderline personality disorder. Psychiatry Research, 274, 343–348. https://doi.org/10.1016/j.psychres.2019.02.042
Fung, L. K., Fan, J., & Sun, Y. (2023). Childhood trauma in borderline personality disorder: A systematic review. Journal of Affective Disorders, 322, 1–11. https://doi.org/10.1016/j.jad.2023.03.051
Herz, R. S. (2016). The role of odor-evoked memory in psychological and physiological health. Brain Sciences, 6(3), 22. https://doi.org/10.3390/brainsci6030022
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. Guilford Press.
Linehan, M. M., Korslund, K. E., Harned, M. S., Gallop, R. J., Lungu, A., Neacsiu, A. D., … & Murray-Gregory, A. M. (2015). Dialectical behavior therapy for high suicide risk in individuals with borderline personality disorder: A randomized clinical trial and component analysis. JAMA Psychiatry, 72(5), 475–482. https://doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2014.3039
Merrett, D. L., Rossell, S. L., & Castle, D. J. (2022). Psychotic symptoms in borderline personality disorder: A systematic review. Personality and Mental Health, 16(2), 89–101. https://doi.org/10.1002/pmh.1515
Niemantsverdriet, M. B., Slotema, C. W., Blom, J. D., & Sommer, I. E. (2017). Hallucinations in borderline personality disorder: Prevalence, characteristics and associations with comorbid symptoms and disorders. Scientific Reports, 7, 13920. https://doi.org/10.1038/s41598-017-14282-2
Pruessner, M., Cullen, A. E., Aas, M., & Walker, E. F. (2017). The neural diathesis-stress model of schizophrenia revisited: An update on recent findings considering illness stage and neurobiological and methodological complexities. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 73, 191–218. https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2016.12.013
Savero, M., Thomas, A., & Gilbert, E. (2022). Auditory verbal hallucinations in borderline personality disorder: A phenomenological and neurocognitive perspective. Frontiers in Psychiatry, 13, 857325. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2022.857325
Slotema, C. W., Daalman, K., Blom, J. D., & Sommer, I. E. (2018). Auditory verbal hallucinations in patients with borderline personality disorder are similar to those in schizophrenia. Schizophrenia Research, 197, 316–320. https://doi.org/10.1016/j.schres.2018.01.006
Strawson, M. A., Keane, B. P., & Tseng, H. (2022). Shared neural mechanisms of hallucinations in borderline personality disorder and schizophrenia. NeuroImage: Clinical, 36, 102194. https://doi.org/10.1016/j.nicl.2022.102194
Van der Zwaard, R. (2021). Reconsidering pseudo-hallucinations: A conceptual review. Philosophy, Psychiatry, & Psychology, 28(1), 55–67. https://doi.org/10.1353/ppp.2021.0004
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